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Monitoramento De Colisões em Estruturas De Energia.

A transição energética é um processo global e urgente que visa substituir fontes fósseis de energia — como carvão, petróleo e gás natural — por fontes renováveis e de baixo carbono, como a solar, eólica, hídrica e biomassa. Essa mudança é essencial para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, reduzir a emissão de gases de efeito estufa e promover um modelo energético mais sustentável e resiliente.

Com o avanço das tecnologias de geração renovável, especialmente a energia eólica e solar fotovoltaica, torna-se necessário expandir a infraestrutura elétrica para integrar essas fontes ao sistema nacional. Isso inclui a construção de torres de geração eólica, que captam a energia cinética dos ventos por meio de aerogeradores, e a instalação de linhas de transmissão, que transportam a energia gerada até os centros de consumo.

A expansão da infraestrutura energética, especialmente no contexto da transição para fontes renováveis, tem gerado preocupações crescentes sobre os impactos na biodiversidade. Entre os efeitos mais documentados estão as colisões de aves e morcegos com turbinas eólicas e linhas de transmissão, que resultam em mortalidade direta e podem comprometer populações inteiras de espécies sensíveis.

Turbinas Eólicas

As turbinas eólicas, embora representem uma alternativa limpa à geração de energia, são responsáveis por números relevantes de mortes de aves e morcegos por ano. Estimativas indicam que, apenas nos Estados Unidos, ocorrem entre 214 mil e 368 mil mortes de aves anualmente por colisão com aerogeradores

Para os morcegos, os números são ainda mais alarmantes: cerca de 780 mil mortes por ano em países como EUA, Canadá, Alemanha e Reino Unido

No Brasil, estudos como o de (Barros, 2019) identificaram taxas de até 4,7 morcegos mortos por turbina por ano, com destaque para espécies como Molossus molossus e Artibeus planirostris, animais que se utilizam de insetos alados em sua alimentação, ficando suscetíveis a colisões durante a atividade de caça.

Linhas de Transmissão

As linhas de transmissão representam um risco significativo para a avifauna, especialmente devido à colisão com cabos para-raios, que são mais finos e menos visíveis. Estima-se que até 25 milhões de aves morram anualmente por colisões com linhas de transmissão em escala global.

A colisão e o contato de aves com linhas de transmissão de energia representam uma ameaça significativa à avifauna brasileira, especialmente em regiões como o Cerrado e o litoral nordestino. Em Galinhos (RN), por exemplo, a instalação de parques eólicos elevou os registros de mortes de aves migratórias como o trinta-réis-róseo (Sterna dougallii) de 6 indivíduos em 2014 para 110 em 2017, significando um salto de 1.183% em apenas três anos.

No caso das aves, o problema das linhas de transmissão se dá em duas frentes: as de pequeno porte, devido aos seus hábitos de voo e abundância, tendem a ter mais problemas em colisões com as linhas de transmissão, enquanto as de médio e grande porte, podem ser afetadas pela eletrocussão, principalmente em linhas de média e baixa tensão, devido à menor distância entres os cabos. Dentre todas, as principais famílias afetadas incluem Ardeidae (garças), Accipitridae e Falconidae (aves de rapina), Anatidae (patos e gansos), Anseriformes (aves paludícolas) e Columbiformes (pombos), com destaque para espécies de maior porte e voo planado (SOLUZIONA ENERGIA, 2023). No Cerrado de Minas Gerais, espécies como o suiriri (Tyrannus melancholicus) e o soldadinho (Antilophia galeata) são comuns e potencialmente vulneráveis, dada sua abundância e hábitos de voo em áreas abertas próximas a estruturas de transmissão (SOUZA, 2014).

Impactos da Perda de Indivíduos

A mortalidade de aves e morcegos por colisão com estruturas energéticas tem implicações ecológicas profundas. Abaixo, descrevemos algumas abaixo:

Desequilíbrio ecológico: Morcegos são predadores naturais de pragas agrícolas e polinizadores de diversas espécies vegetais. A redução de suas populações ou a sua perda afetam diretamente a agricultura e a regeneração de ecossistemas 

Fragmentação de habitat: A instalação de parques eólicos e linhas de transmissão frequentemente envolve desmatamento e construção de acessos, fragmentando corredores ecológicos e alterando padrões de movimentação da fauna, de forma geral.

Extinções locais: Em áreas com alta densidade de turbinas, os impactos cumulativos ao longo de décadas podem levar à extinção local de populações de morcegos e aves

Métodos de Mitigação

Para o caso das Linhas de Transmissão (alta, média ou baixa), diversos estudos propõem estratégias de mitigação baseadas em evidências científicas. Uma das medidas mais eficazes é o uso de sinalizadores visuais em cabos de linhas de transmissão, que aumentam a visibilidade das estruturas e reduzem colisões. Barcellos-Silveira (2022) demonstrou que aves da família Hirundinidae alteram significativamente suas trajetórias de voo em trechos sinalizados, evidenciando a eficácia da intervenção.

No caso das turbinas eólicas, tecnologias como sistemas de desligamento temporário durante períodos de alta atividade de morcegos têm sido recomendadas. Segundo o portal Renovável (2023), essa estratégia, aliada ao uso de dispositivos acústicos de dissuasão, pode reduzir substancialmente a mortalidade desses animais. Além disso, o planejamento espacial das instalações, evitando rotas migratórias e áreas de alta densidade de fauna, é considerado essencial (RENOVÁVEL, 2023).

A aplicação de tecnologias de monitoramento em tempo real, como radares e inteligência artificial, também tem avançado. Estudos recentes têm demonstrado que tecnologias baseadas em detecção acústica de ultrassons podem ser eficazes na mitigação desses impactos. Esses sistemas são capazes de identificar, em tempo real, a presença de morcegos nas proximidades das torres eólicas e, com base nessa detecção, ajustar o ritmo de operação das turbinas — reduzindo a velocidade de rotação ou promovendo desligamentos temporários durante períodos críticos, como o crepúsculo (PESQUISA FAPESP, 2023). Tais medidas são complementadas por ações de compensação ambiental, como a restauração de habitats e a criação de corredores ecológicos, que visam reduzir os efeitos da fragmentação causada pelas estruturas (RENOVÁVEL, 2023).

Estudos de Campo

A avaliação da mortalidade de aves e morcegos em turbinas eólicas e linhas de transmissão é essencial para o desenvolvimento de estratégias de mitigação e conservação da biodiversidade. Diversos métodos têm sido utilizados por pesquisadores e consultores ambientais para quantificar e compreender esses impactos.

Estudos específicos sobre colisões e eletrocussões são fundamentais para compreender a magnitude desses impactos e propor medidas de mitigação eficazes. Sem dados concretos, os licenciamentos ambientais podem subestimar os riscos, resultando em perdas irreversíveis para a fauna local. Além disso, a ausência de monitoramento contínuo dificulta a identificação de pontos críticos e a adoção de soluções como sinalização visual dos cabos, isolamento de condutores ou alteração de traçados. A realização desses estudos também contribui para o cumprimento da requisitos nacionais e internacionais sobre a preservação e conservação do meio ambiente, que privilegia a avaliação de impactos sobre a fauna em empreendimentos de infraestrutura. Projetos que incorporam medidas preventivas desde a fase de planejamento tendem a ser mais sustentáveis e socialmente aceitos, além de reduzirem custos com compensações ambientais futuras. A integração entre ciência, engenharia e conservação é essencial para garantir que o avanço das energias renováveis ocorra de forma responsável.

Principais métodos de investigação:

Monitoramento por busca direta de carcaças: inspeção sistemática do solo ao redor das turbinas ou estruturas de transmissão para localizar carcaças. A eficácia depende da frequência das buscas e do treinamento dos observadores.

Correções estatísticas de detectabilidade e remoção: os também chamados “testes” (teste de eficiência do coletor e teste de remoção de carcaças, principalmente) consistem da aplicação de modelos estatísticos para compensar perdas de carcaças por predação ou falhas de detecção, criando um fator de correção aos números efetivamente coletados em campo.

Monitoramento acústico e bioacústico: uso de sensores ultrassônicos para registrar os chamados de morcegos durante o voo, permitindo identificar espécies e padrões de atividade.

Rastreamento por rádio e GPS: acompanhamento dos movimentos de aves e morcegos em tempo real para identificar rotas migratórias e comportamento de voo próximo às estruturas.

Modelagem de adequação de habitat e risco de colisão: combinação de dados de distribuição de espécies, características do terreno e localização das turbinas para prever áreas de maior risco.

A integração das Novas Tecnologias aos Estudos Tradicionais

A preservação ambiental e a sustentabilidade têm se tornado pilares fundamentais nos projetos de engenharia moderna. Além dos métodos tradicionais de estudos de campo, novas tecnologias vêm sendo incorporadas para ampliar a precisão, eficiência e responsabilidade ambiental dos empreendimentos.

Como exemplos, temos o BIM, que permite a criação de modelos digitais tridimensionais integrando dados técnicos, geográficos e ambientais. Em projetos de infraestrutura energética, como linhas de transmissão e parques eólicos, o BIM é utilizado para simular cenários de impacto ambiental, identificar áreas sensíveis e planejar traçados que evitem zonas de preservação.

O LiDAR é uma ferramenta de mapeamento que utiliza pulsos de laser para gerar modelos topográficos detalhados. Essa tecnologia é essencial para detectar vegetação, relevo e alterações ambientais, permitindo a instalação de estruturas com menor impacto ecológico.

A integração entre BIM, IoT e Blockchain tem sido testada em ambientes reais, como no programa Construa Brasil, para melhorar o controle de obras e a gestão de ativos. Essa abordagem permite decisões mais sustentáveis e monitoramento em tempo real.

Ao integrar dados de biodiversidade aos modelos digitais, é possível prever e evitar áreas de alto risco para colisões com aves e morcegos. Isso contribui para um licenciamento ambiental mais eficaz e responsável.

Compromisso da STCP Engenharia

A STCP Engenharia está sempre em busca de atualização de sua equipe e inovações tecnológicas que tragam benefícios mútuos ao meio ambiente e aqueles que empreendem. Nesse contexto, mantemos sempre as tecnologias de ponta, em nosso portfólio de projetos, aliando os estudos de campo tradicionais a ferramentas digitais avançadas. Essa integração permite assertividade nos processos de licenciamento de obras de infraestrutura, promove e direciona as execuções para uma engenharia mais sustentável, com menor impacto ambiental e maior congruência com as melhores práticas de sustentabilidade.

Literatura consultada

BARROS, Marília Abero Sá de; Interações entre morcegos e turbinas eólicas no Agreste do Rio Grande do Norte, Nordeste do Brasil / Tese (doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco. Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal. Recife, 2019.

TERRA RUIVA. A crescente e alarmante mortalidade de aves por colisão com linhas elétricas. 2023. Disponível em: https://www.terraruiva.pt/2023/03/05/a-crescente-e-alarmante-mortalidade-de-aves-por-colisao-com-linhas-eletricas/. Acesso em: 27 ago. 2025.

SOLUZIONA ENERGIA. Impactos Ambientais das Linhas de Transmissão sobre a Avifauna. 2023. Disponível em: https://www.soluzionaenergia.com/blog/impactos-ambientais-das-linhas-de-transmissao-sobre-a-avifauna/. Acesso em: 27 ago. 2025.

SOUZA, A. Z. Abundância e detectabilidade das aves comuns do Cerrado de Minas Gerais. 2014. Dissertação (Mestrado em Ecologia) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. Disponível em: https://locus.ufv.br/bitstreams/36531aef-ce32-4212-bdfe-633802067650/download. Acesso em: 27 ago. 2025.

BARCELLOS-SILVEIRA, A. Comportamento de voo de aves em resposta ao uso de sinalizadores em linhas de transmissão de energia elétrica. Iheringia, Série Zoologia, 2022. Disponível em: https://www.academia.edu/93326818. Acesso em: 27 ago. 2025.

RENOVÁVEL. Como é mitigado o impacto sobre aves e morcegos?. 2023. Disponível em: https://renovables.blog/pt/poder-do-vento/Como-mitigar-o-impacto-sobre-aves-e-morcegos/. Acesso em: 27 ago. 2025.

UM SÓ PLANETA. Como a tecnologia está tornando turbinas eólicas mais seguras para pássaros. 2023. Disponível em: https://umsoplaneta.globo.com/energia/noticia/2023/05/02/como-a-tecnologia-esta-tornando-turbinas-eolicas-mais-seguras-para-passaros.ghtml. Acesso em: 27 ago. 2025.

PESQUISA FAPESP. Pesquisadores querem reduzir mortes de morcegos nos parques eólicos. 2023. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/pesquisadores-querem-reduzir-mortes-de-morcegos-nos-parques-eolicos/. Acesso em: 27 ago. 2025.

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